Entre territórios percorridos, labirintos criados e memórias exploradas, a artista visual Ana Friedlander chega ao Pavão Cultural com um conjunto de obras de arte para uma individual. São obras construídas a partir de fotografias que se transformam em colagens digitais, livros de artista e instalações. “Territórios, Labirintos e Memórias” abriu no dia 29 de fevereiro, sob a curadoria de Andrés I. M. Hernández e Isabela Senatore, na Rua Maria Tereza Dias da Silva, 708, em Barão Geraldo, Campinas. 

A pesquisa artística, que resultou nessa que é a sexta individual da artista, foi desenvolvida por Friedlander ao longo de 2023, mas também conta com obras que já fazem parte do seu portfólio. Dividida em temas, como diz o nome da mostra, para o que é relacionado às memórias – sejam suas ou de familiares que lhe foram contadas-, de anotações, de lembranças, de imagens emprestadas, ela conta que o processo criativo aconteceu nos encontros semanais com a curadora e fotógrafa Senatore. “O processo (criativo) das memórias usando fotos tem várias etapas. Primeiro fuçamos nas caixas que tenho cheias de fotografias antigas da família. Selecionamos as que nos interessam e fotografamos explorando as técnicas fotográficas que Isabela me apresenta”. Depois de alguns processos que vão dando forma ao material obtido, elas discutem em que suporte a artista vai apresentar a obra, um exemplo é “Labirintos”. 

Cada tema foi explorado e trabalhado de uma determinada maneira. Em “Territórios” sua produção parte das fotografias que captou nas expedições/residências artísticas. E neste caso, a escolha das imagens é realizada somente por ela. “Como adoro fotomontagem, brinco com as imagens. É um processo menos ‘pensado’.  Invento histórias fantásticas como quem faz colagem manual, mas no computador. Brinco com diferentes meios e técnicas e o que me satisfaz guardo”.

E ao “costurar” todos esses processos Friedlander nos apresenta obras contemporâneas que fizeram com que ela enveredasse pela fotografia, pintura, produção de vídeo, livros de artista etc, fazendo uma interligação entre essas modalidades. Como diz Andrés I. M. Hernández sobre a produção da artista em seu texto curatorial, “a manutenção desses procedimentos na contemporaneidade faz desses territórios (os de Friedlander) pausa e adubo para a solidez de seus manifestos visuais”. 

Na opinião da curadora Isabela Senatore, as obras de Friedlander “são exercícios mentais de belezas estéticas muito ligadas à matemática”. Acontece que a artista é professora doutora de matemática, já aposentada pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), o quê para Senatore tem influência na sua pesquisa quando a artista utiliza formas geométricas para construir seus labirintos particulares. 

A artista diz que não tem um processo organizado, mas em sua colocação percebe-se que há uma disciplina, além do prazer em criar. “Vou fazendo, todos os dias, é quase como um vício”, diz ela. E quem sabe em sua autoanálise esteja também o que a influência em seu desenvolver criativo: “a Ana de alguns momentos do passado é outra pessoa. Talvez a descontinuidade e turbulências causem essa sensação [….] um “EU” que transitou e ainda transita um caminho sinuoso”. 

Ana Friedlander, a artista 

Ana Friedlander nasceu na Hungria em 1947. Cresceu e se educou em Buenos Aires, Argentina, onde se formou em matemática. Em 1976, mudou para o Brasil onde fez doutorado e trabalhou como professora no Departamento de Matemática Aplicada da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) até se aposentar em 2016. A partir de então passou a se dedicar à pintura e à fotografia. Além das aulas de fotografia com Isabela Senatore e Juliana Engler ela fez pintura e gravura com Vera Ferro. Em 2017, realizou sua primeira exposição individual, completando a sexta no Pavão Cultural, sendo que duas foram em Buenos Aires. Também participou de diversas exposições coletivas no Brasil e no exterior. Atualmente participa das oficinas “Poemas dos Arquivos e Esculturas dos Restos” de Estefania Gavina, no Ateliê Casa.

“Territórios, Labirintos e Memórias”, de Ana Friedlander sob curadoria de Andrés I. M. Hernández e Isabela Senatore

Visitação: 29 de fevereiro a 06 de abril de 2024 

Local: Instituto Pavão Cultural – Rua Maria Tereza Dias da Silva, 708 – Barão Geraldo, Campinas (SP)